Agricultores fecham rodovias da Índia

Com agravamento da pandemia e protesto dos agricultores, economia da Índia corre sérios riscos de colapsar. Inflação saiu de 4.061% no ultimo mês para 5.030% e preço das commodities podem disparar no Brasil.

Aires Andrade 10/04/21 às 18:08
Agricultores fecham rodovias da Índia

Hospitais em Mumbai e em outros lugares enfrentam filas cada vez maiores de pessoas em busca da vacina. Algumas pessoas têm feito peregrinações, indo de hospital em hospital em busca da vacina. Uma onda de protestos tomou o território indiano nas últimas semanas.

A índia se tornou o epicentro global da pandemia. Nas últimas 24 horas, a Índia registrou 131.968 novos casos de COVID-19, ante menos de 20 mil casos no mês passado. Isso é mais do que qualquer outro país nesta semana e mais alto do que a primeira onda de infecções que atingiu o pico na Índia, em setembro.

Em apenas 11 dias, 1 milhão de contágios foram confirmados pelo Ministério da Saúde.

Em março, a Índia suspendeu temporariamente as exportações, já em um esforço para acelerar a vacinação e conter escalada nas infecções. O bloqueio está provocando atrasos nas vacinações em outros países, como Reino Unido, e no Covax, mecanismo liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para distribuir vacinas para os países mais pobres e em desenvolvimento.

Com o bloqueio às exportações, o Instituto Serum, maior fabricante de vacinas do mundo, disse que cerca de 70 milhões de doses que consegue produzir por mês devem ser usadas pelo governo indiano nos próximos 60 dias. Desde o início da produção, a índia exportou 60 milhões de doses, enquanto aplicou 94,4 milhões em seus cidadãos.

 

Situação delicada no setor de agricultura

 

Mais de 100 mil agricultores e trabalhadores rurais se reuniram no Estado de Punjab, no norte da Índia, em uma demonstração de força contra novas leis agrícolas, onde líderes sindicais pediram a seus apoiadores que se reunissem nas imediações da capital Nova Dhéli no dia 27 de fevereiro.

Dezenas de milhares de fazendeiros indianos já estiveram acampados nos arredores de Dhéli por quase três meses, exigindo a revogação de três leis de uma reforma que eles dizem que irá prejudicá-los e beneficiar grandes corporações.

O governo do primeiro-ministro, Narendra Modi, que introduziu as leis em setembro do ano passado, ofereceu adiar o início das leis, mas se recusou a abandoná-las, argumentando que a legislação ajudará os fazendeiros a conseguirem melhores preços.

Ambos os lados se encontraram por várias rodadas de negociações, mas fracassaram em avançar, e as associações sindicais de fazendeiros prometeram continuar com os protestos até que as leis sejam retiradas.

 

Protestos fecham as principais rodovias do país

 

Sindicatos de fazendeiros intensificaram seu protesto nesse final de semana (abrir/2021) e bloquearam as principais rodovias Kundali-Manesar-Palwal e Kundli-Ghaziabad-Palwal por 24 horas a partir desta manhã. O bloqueio começou às 8h e duraria 24 horas. O Samyukta Kisan Morcha, um grupo de sindicatos de agricultores em protesto que lidera a agitação contra as legislações relacionadas à agricultura, na sexta-feira fez um apelo pelo bloqueio de 24 horas da via expressa KMP. A via expressa de 136 km também é conhecida como Western Peripheral Expressway. Agricultores que protestaram, no entanto, disseram que os veículos de emergência terão permissão para passar. O secretário-geral da União Bhartiya Kisan (Lakhowal), Harinder Singh Lakhowal, disse que o bloqueio seria de 24 horas. Enquanto isso, a Polícia de Haryana emitiu um aviso de tráfego, pedindo aos viajantes que evitassem a via expressa KMP. O Diretor Geral Adicional da Polícia (Lei e Ordem) Navdeep Singh Virk na sexta-feira disse que arranjos elaborados estavam em vigor para manter a paz e a ordem, prevenir qualquer tipo de violência e facilitar o movimento do tráfego e transporte público na via expressa.

Desvios de tráfego foram planejados pelos distritos afetados, especialmente Sonipat, Jhajjar, Panipat, Rohtak, Palwal, Faridabad, Gurgaon e Nuh, disse Virk. Os passageiros vindos do lado de Ambala / Chandigarh na Rodovia Nacional-44 podem ir em direção a Ghaziabad e Noida da UP via Karnal para Shamli e de Panipat para Sanauli. Os veículos que vão em direção a Gurgaon e Jaipur podem pegar a rodovia nacional 71A de Panipat e viajar via Gohana, Rohtak, Jhajjar e Rewari. Centenas de agricultores, principalmente de Punjab, Haryana e Uttar Pradesh ocidental, acamparam em três pontos da fronteira de Delhi - Singhu, Tikri (ao longo de Haryana) e Ghazipur - exigindo a revogação das três leis agrícolas. O Centro diz que as novas leis agrícolas irão libertar os agricultores de intermediários, dando-lhes mais opções para vender suas safras. Os fazendeiros que protestam, no entanto, dizem que as leis vão enfraquecer o sistema de preço mínimo de suporte (MSP) e deixá-los à mercê de grandes corporações.

 

Relação Bilateral com o Brasil

 

A relação entre Índia e Brasil tem se mostrado frutífera desde a independência indiana, quando em 1948 foram inauguradas as Embaixadas da Índia no Brasil e do Brasil na Índia. Dessa forma, ambos países compartilham de várias similaridades, sendo estas sociais, políticas, geográficas e econômicas, que contribuem para a otimização dessa relação ao longo dos anos. A Índia e o Brasil se destacam entre as maiores democracias no mundo e compartilham uma multiculturalidade, etnicidade e religiosidade que são expressas na diversidade que é tão característica e respeitada nesses países.  Durante os anos 1990 houve uma maior aproximação devido à adoção de políticas públicas que visavam a liberalização da economia, tornando os laços políticos e econômicos ainda mais intensos. Segundo o Ministério da Relações Exteriores do Brasil, os contatos políticos se estreitaram ainda mais nos anos 2000, quando várias oportunidades de cooperação foram identificadas através do estabelecimento de uma Política Estratégica.

 

A aproximação também se tornou evidente durante este período, quando em 2001 o instituto Goldman Sachs criou o termo BRICs para se referir às economias emergentes no mercado internacional, Brasil, Rússia, Índia e China, que compartilhavam de certas similaridades, como um crescimento acelerado, alto nível populacional e grande extensão territorial. De acordo com estudos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), os países que fazem parte do BRICs também ganham expressividade devido à capacidade produtiva dos mesmos e considerável aumento de participação no comércio internacional. Com o intuito de institucionalizar ainda mais essa relação, em 2003, foi criado um fórum de cooperação entre Índia e Brasil, que incluía também a África do Sul, e ficou conhecido como IBAS.

 

A classe média e os desafios que ambos enfrentam diante da configuração do sistema internacional das potências tradicionais também são fatores significantes de aproximação de ambos os países, acarretando no fortalecimento das trocas comerciais, devido a potencialidade desses mercados consumidores, e intensidade da relação bilateral. Dessa forma, a conjuntura desses mercados, fazem com que sejam complementares, e não competidores, uma vez que os produtos e serviços demandados por um deles são suprimidos pelo outro, fazendo com que o comércio seja necessário e positivo para o equacionamento dessas questões.

 

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as trocas comerciais entre Brasil e Índia ganharam notoriedade nos números, onde menos de U$ 500 milhões em 2000 aumentou para cerca de U$ 7,7 bilhões em 2010 de participação indiana no comércio exterior brasileiro. A aproximação entre Índia e Brasil também é expressa nos inúmeros acordos de cooperação assinados, acarretando em posições conjuntas em decisões e assuntos importantes, e no posicionamento de ambos em organizações internacionais importantes como o Conselho de Segurança da ONU e a Organização Mundial do Comércio (OMC), reivindicando uma nova ordem internacional que questiona a configuração tradicional estabelecida no sistema. Ao que tudo indica, o futuro dessa aproximação é promissor, já que ao longo dos anos os elementos econômicos também acarretaram laços políticos, culturais e sociais, que somam em boas sinergias entre esses países.

 

Fontes: Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Ministério das Relações Exteriores, Organização das Nações Unidas (ONU), Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Organização Mundial do Comércio (OMC).

 

Apresentação

A Índia possui um legado milenar, que sofreu influência das mais ricas civilizações que foram moldando sua cultura ao longo dos anos. Em 15 de agosto de 1947, o país se tornou independente do domínio Britânico sob liderança de Mahatma Gandhi, que pregava uma revolução baseada na pacificidade. Com uma população que ultrapassa 1 bilhão de habitantes, hoje a Índia se destaca como um dos países mais populosos e a maior democracia do mundo e, segundo estimativa das Nações Unidas (ONU), em 2028 ultrapassará a população da China. Diante disso, a ONU também classificou três cidades indianas, Delhi, Mumbai e Calcutá, entre as dez megacidades do mundo. Esses fatores, trazem para a Índia uma grande diversidade que é expressa na cultura e nos mais de 1000 idiomas e dialetos falados no país, sendo o inglês o único idioma em comum entre todos. Os dados econômicos são também expressivos, sendo apontada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como o país que mais cresce no mundo com taxas consistentes de cerca de 7% ao ano desde a década de 1990. Mesmo diante de um cenário internacional de economia instável e crise, os indicadores econômicos indianos fazem com que o país seja apontado como a provável potência mundial antes da metade do século. O aumento de investimentos no país, ocasionado por políticas governamentais de incentivo, resultou no crescimento de renda da população, tornando a Índia uma grande potência em mercado consumidor. Atrelado a isso, a Índia é considerada umas das maiores potências mundiais agrícolas, tanto em produção quanto em consumo. O setor industrial também tem ganhado grande expressividade, se destacando o setor automobilístico, que tem crescido significativamente, indústria química, tornando a Índia o maior exportador de genéricos do mundo, e o setor têxtil. Nos últimos anos, o governo indiano tem investido intensamente na profissionalização do país, formando cientistas e profissionais das mais diversas áreas que possuem prestígio mundial. Diante disso, o setor de softwares tem tido um rápido crescimento como um dos grandes destaques da economia. Todo esse histórico proporcionou à Índia um ambiente favorável de negócios, fazendo com que o país tenha hoje um nível controlado de inflação, reservas internacionais, déficit público administrável e controle de capitais.

Setores por Regiões 

 

As atividades econômicas são distribuídas no território indiano de acordo com a potencialidade de cada região. O norte do país é caracterizado pelas terras férteis, concentrando boa parte da produção agrícola especialmente pelo Vale dos Ganges, fazendo com que a Índia tenha a maior área cultivável do mundo. As riquezas naturais da Índia, como minerais dentre outros, se concentram a leste se destacando os recursos hídricos do país. O oeste concentra boa parte das instituições financeiras que possuem grande expressividade na economia do país, sendo Mumbai a cidade que mais concentra atividades desse setor. Um dos setores mais proeminentes da Índia é o da tecnologia da informação, e a maioria das grandes empresas deste setor se concentram no sul do país sendo a cidade de Bangalore um dos destaques. 

Fontes: Banco Mundial, India Brand Equity Foundation (IBEF), Santander.

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